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Preço
€10.00

DAVID PEREZ, Matuttino de Morti

Flores de Mvsica & Capella Joanina, dir. João Janeiro

 

Responsórios para as Matinas do Ofício dos Defuntos  
Gravação feita a partir dos concertos realizados no CCB, a 31 de Outubro e 1 de Novembro de 2005

 

“Fui aos Mártires para ouvir as famosas matinas de Perez. A música, majestosa e comovedora, para além de toda a descrição, a esplêndida decoração da igreja fora substituída por paramentos de luto, o coro forrado de preto, os altares velados, o altar-mor coberto de panejamentos púrpura e ouro, e no meio do coro catafalso rodeado de castiçais e altas velas. […] Primeiro um silêncio tremendo e depois o solene ofício dos finados. Os músicos até empalidecem quando cantam Timor mortis, etc. […] Depois do Requiem, a Missa Solene de Jommelli em comemoração dos defuntos. Fecha com o Libera me, Domine. Eu tremia todo e pouco faltou para chorar. […] Tão majestosa e comovedora música foi coisa que nunca ouvi e que talvez nunca mais ouça, porque a chama do entusiasmo religioso está a apagar-se em quase toda a Europa e ameaça extinguir-se totalmente dentro de poucos anos. Como ainda arde em Lisboa, consegue produzir, em nossos dias, a mais impressionante expressão musical. Todas as figuras da orquestra parecem compenetradas do espírito daquelas terríveis palavras que Perez e Jommelli musicaram com uma tão tremenda sublimidade. Não só a música, até o sério porte dos executantes e dos sacerdotes que ofciavam, bem como, na verdade, de toda a congregação, era de molde a transmitir um solene e religioso do mundo além-campa. […].

Este expressivo testemunho da época relativo à data de 26 de Novembro de 1787 é da autoria do viajante inglês William Beckford, e reporta-se a uma das circunstâncias em que esta obra foi executada no contexto das cerimónias da Irmandade de Santa Cecília de Lisboa. O texto traduz de um modo extremamente vivo a experiência auditiva e o contexto de execução, pleno de rituais e de teatralidade, em que as grandes celebrações religiosas da capital se encontravam mergulhadas. Matuttino de’morti de David Perez (Nápoles, 1711-Lisboa, 1778), músico considerado na época como um dos expoentes máximos da composição de música dramática na Europa, surge como uma das obras que melhor pode ser apresentada para homenagear os que pereceram no terrível terramoto que se abateu sobre a cidade de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755. Daí que tenha sido escolhida para os concertos em que se assinalou a passagem dos duzentos e cinquenta anos sobre a data deste cataclismo.